Baixo PS e Itabapoana – Apesar de novas regras, milícia segue explorando motoristas de vans no Rio

As regras mudaram, mas motoristas submetidos ao processo de licitação da Prefeitura do Rio para operar as vans na cidade continuam sendo achacados pela milícia. O terceiro capítulo da série especial do G1 sobre novas formas de atuação dos milicianos no Rio mostra que, apesar de estarem enquadrados no Sistema de Transporte Público Local (STPL), que deu concessão individual para que permissionários circulem em determinados trajetos, muitos motoristas sofrem com o pagamento de “taxas” de até R$ 400 por semana para poder circular.

“Quem não paga não pode rodar e recebe ameaça dizendo que algo vai acontecer com os que não estiverem em dia. O pagamento é feito toda sexta-feira na parte da tarde, umas três horas da tarde, em um escritório que fica dentro de um galpão na Pavuna”, disse um motorista de uma linha que opera no mesmo bairro.

Milícia cobra para motoristas de vans circularem na Taquara (Foto: Janaína Carvalho / G1)Milícia cobra para motoristas de vans circularem na Taquara (Foto: Janaína Carvalho / G1)

Há cerca de três meses, a milícia que atua na região da Taquara, na Zona Oeste da cidade, numa localidade conhecida como Mangueirinha, também passou a cobrar taxa dos motoristas cadastrados pela prefeitura para operar as novas linhas. Vítimas de intimidações e ameaças, alguns estão deixando, inclusive, de trabalhar.

Segundo um motorista que circula em uma linha que passa pela região, quem não paga a taxa de R$ 40 não pode rodar na linha. “Eles vem em um carro só e fazem a cobrança armados”, afirmou o motorista, destacando que, por medo, alguns permissionários deixaram de rodar na linha, mas mesmo assim continuam tendo que pagar a taxa.

De acordo com a prefeitura, a fiscalização é voltada para o cumprimento do código disciplinar e diz respeito à atividade de transporte, mas quando a Coordenadoria Especial de Transporte Complementar é procurada e recebe denúncias, repassa para as autoridades de segurança.

“Hoje temos registros tanto de segmentos ligados ao tráfico de entorpecentes quanto de milícias cobrando para as vans circularem. Os valores são significativos e desviados, posteriormente, para a prática de atividades criminosas”, destacou o coordenador de Especial de Transporte Complementar, Cláudio Ferraz.

O G1 entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro questionando como é feita a repressão a esse tipo de atividade criminosa, mas a resposta dada foi que “a Draco não confirma ou comenta sobre investigações”.

Fonte de dinheiro
A exploração do transporte alternativo foi uma das atividades que impulsionou, fortaleceu e enriqueceu as milícias no Rio durante muitos anos. No final de 2008, a Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) recomendou que o transporte alternativo fosse legalizado “com a devida normatização, cadastro, controle e fiscalização, mediante permissões de caráter individual”, diz o parecer.

De acordo com o deputado Marcelo Freixo, que presidiu a CPI, o faturamento, apenas em Rio das Pedras, Zona Oeste, considerada uma das primeiras regiões a ser dominada por milícia no Rio, chegava a R$ 5 milhões com o transporte alternativo na região em 2008. “Conseguimos esse levantamento porque interrogamos o dono da cooperativa, que disse quanto custava e quantos passageiros transportava e nós calculamos”, explicou Freixo.

Há cerca de dois anos, a prefeitura encaminhou um relatório à Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE) e à Procuradoria Geral do Estado (PGE), pedindo a cassação do CNPJ de cooperativas que funcionem como “escritórios de extorsões”.

“Não foi pouco o volume de homicídios relativos a disputa de poder dentro das próprias cooperativas. Então, houve uma iniciativa da prefeitura de encaminhar, tanto para a Secretaria de Segurança Pública, como para o Ministério Público, um pedido de uma apreciação sobre se essas cooperativas estão operando como cooperativas, em prol e benefício dos cooperativados, ou são simplesmente escritórios de extorsão, com objetivo de dar legitimidade a essa atividade criminosa”, afirmou Ferraz.

Em 2016, 2.500 vans
Até agora, 1.400 vans estão circulando com as novas regras da prefeitura, mas a previsão é que 2.500 passem a rodar no município no início de 2016. A última região a passar pela mudança é justamente a Zona Oeste do Rio, região que, historicamente, mais sofreu e sofre com a atuação da milícia.

“A implantação deve começar em Bangu, Realengo, Campo Grande e Santa Cruz, essa região toda será implantada e teremos o sistema implantado em todo o município. É uma área que tem um histórico extremamente preocupante, mas os órgãos de segurança pública estão todos mobilizados e conscientes disso. Vamos fazer a implantação dentro dos mesmos moldes, mas sempre atentos”, afirmou Ferraz.